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14 de ago. de 2009

está de volta CINE CLUB ESTRÉIAS DO CINEMA


Em "Brüno", Baron Cohen tira piadas do preconceito

SÃO PAULO (Reuters) - Se Borat foi considerado engraçado, transgressor, nojento ou abusivo, era porque ninguém conhecia ainda Brüno, personagem também criado por Sacha Baron Cohen, que chega aos cinemas no filme homônimo, na sexta-feira.

O protagonista é um homossexual austríaco, apresentador de um programa de televisão especializado em moda, obcecado por celebridades e fama.

A sua demissão, por conta de alguns incidentes, serve de desculpa para Brüno sair em busca do mundo e conquistá-lo. Dos Estados Unidos ao Oriente Médio, com uma rápida parada na África, o personagem leva por onde passa o humor sem limites -- muitas vezes hilário, outras, grosseiro -- do criador de Borat.

Em 2006, com "Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América", Baron Cohen elevou o patamar do politicamente incorreto e do ofensivo com seu repórter cazaque numa cruzada pelos Estados Unidos a fim de compreender e desvendar o American way of life.

"Brüno" não é muito diferente, mas, em alguns momentos, o ator parece ter perdido completamente o limite. O personagem quer ser "o maior superstar austríaco desde Hitler".

Dirigido por Larry Charles, o mesmo de "Borat", a comédia é precisa ao criticar o culto às celebridades instantâneas -- um fenômeno que atingiu proporções assustadoras nos últimos tempos. Aqui, novamente, boa parte da graça vem de pessoas que não são atores reagindo às provocações de Brüno -- todas feitas num tom muito sério, como se fosse real.

Na fashion week da Áustria, antes de ser demitido, o personagem entrevista uma modelo e pergunta sobre as dificuldades da profissão -- entre as quais, a de colocar o pé direito na frente do esquerdo, e vice-versa, ou seja, o simples ato de andar. A moça seriamente concorda que, realmente, é muito difícil.

Vivemos num mundo fútil que cultua o superficial e, ciente disso, Baron Cohen não poupa ninguém. Em sua escalada rumo à fama, Brüno lança um programa de entrevista e convida a cantora Paula Abdul para falar sobre seus trabalhos humanitários e como eles são vitais para ela -- tudo isso enquanto está sentada nas costas de um mexicano que lhe serve de cadeira.

La Toya Jackson também estava no talkshow, mas, após a morte de Michael Jackson, sua cena foi cortada. Em outros momentos, o rapaz tenta estabelecer a paz entre israelenses e palestinos, que culmina num canto, cujo refrão é algo como Brüno, a pomba da paz.

Nem políticos americanos são poupados. Ron Paul, aspirante à Presidência dos EUA, certamente não sabia com quem se envolvia ao aceitar participar de uma entrevista com Brüno, que termina num quarto de hotel com o entrevistador tentando fazer um filme pornográfico com o ex-candidato.

É uma máxima maquiavélica: os fins justificam os meios. Se, por um lado, Brüno encarna um clichê atrás do outro, por outro, seu objetivo -- o de expor, entre outras coisas, a homofobia norte-americana -- parece desculpar esse mesmo sentimento do próprio filme.

Talvez, o que pese contra o longa é que, ao contrário do ingênuo personagem Borat, Brüno não mede esforços para conquistar a fama e acaba sendo tão desnecessário quanto o preconceito que ele quer expor.

No Brasil, como na Austrália, "Brüno" é exibido numa versão um pouco mais curta do que a lançada nos Estados Unidos. Numa das cenas, por exemplo, não são mostradas todas as peripécias sexuais do personagem e seu amante nanico -- ficou, na versão brasileira, apenas uma garrafa de champanhe presa em seu traseiro.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

Cobaias de laboratório viram espiões em "Força G"

SÃO PAULO (Reuters) - Não se deixe enganar: apesar dos simpáticos porquinhos-da-índia que protagonizam "Força G", que estreia em cópias dubladas em 3D e em 2D na sexta-feira, o longa leva a marca do produtor Jerry Bruckheimer, mais conhecido por suas extravagâncias de ação, como a série "Piratas do Caribe" e "Peal Harbor".

"Força G" prova a potencialidade de roedores no cinema, que inclui os protagonistas de filmes como "Fievel - Um Conto Americano", "Ratatouille", "A História de Desperaux" e coadjuvantes em "Bolt- Supercão" e "Um Faz de Contas que Acontece".

Aqui, um grupo de cobaias de laboratório forma um esquadrão de elite de espionagem do governo norte-americano. Munidos de equipamentos modernos, eles podem ser invencíveis.

O esquadrão de cobaias deve investigar a empresa de um sujeito maligno, chamado Leonard Saber, vivido pelo ator inglês Bill Nighy ("Operação Valkiria", "O Jardineiro Fiel"), que criou equipamentos capazes de destruir o planeta.

A Força G é composta por Darwin, o líder do grupo, que não mede esforços para vencer; Blaster, especialista em armas; Juarez, que sabe tudo sobre artes marciais; uma mosca chamada Mooch, que trabalha para reconhecer o campo de atuação do grupo, e uma toupeira, Speckles, que conhece informática, apesar da cegueira típica de sua espécie.

Eles trabalham para o governo até o programa ser fechado. O criador do esquadrão, Dr Ben Kendall (Zach Galifianakis, de "Na Natureza Selvagem"), resolve então liberar os animais para a vida civil. Eles trabalharão disfarçados num petshop até poderem reassumir suas identidades.

Na loja, levarão uma vida muito diferente da que estavam acostumados, dividindo espaço com animais esquisitos. Jaurez e Blaster logo são adotados por um casal de irmãos, enquanto os demais ficam a mercê de crianças que visitam o petshop com os hábitos mais estranhos. Mas não demora muito e o esquadrão se unirá novamente para salvar o mundo das maldades de Leonard Saber.

Dirigido por Hoyt Yeatman, especialista em efeitos especiais que trabalhou em filmes como "Canguru Jack", "Armagedon" e "Missão Marte", "Força G" não faz feio quando o quesito é combinar ação com efeitos visuais de terceira dimensão.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

Raimi volta ao terror com "Arrasta-me para o Inferno"

SÃO PAULO, 13 de agosto (Reuters) - Quem é fã de filmes de terror conhece o nome Sam Raimi muito antes da mais recente franquia cinematográfica sobre o Homem-Aranha. Ainda na década de 1980, o diretor e roteirista foi responsável pela celebrada trilogia "The Evil Dead" (1981, 1987 e 1992)¸ que ganhou no Brasil confusamente dois títulos: primeiro, o já errado "A Morte do Demônio" e, mais tarde, o impensável "Uma Noite Alucinante".

Depois de ser amaldiçoada pela sra. Ganush (Lorna Raver), Christine Brown (Alison Lohman) passa a ser perseguida por um espírito maligno

Raimi, na época, pegava carona na onda de filmes de violência explícita, em que "Sexta-Feira 13" (1980) é um dos mais seus maiores expoentes. Mas, o diretor não seguia exatamente as fórmulas manjadas de seus contemporâneos.

Em "The Evil Dead", ele conseguiu combinar o horror, mostrado de forma crua e direta, com traços de comédias, que beiram o ridículo, de forma equilibrada.

O seu novo "Arrasta-me para o Inferno", que estreia no país na sexta-feira, é um bom exemplo disso. Involuntário ou não, o riso aparece nas cenas mais inusitadas, porque Raimi não tem medo de se exceder e intercalar terror com humor.

Com roteiro assinado em parceria com seu irmão, Ivan Raimi, "Arrasta-me para o Inferno" conta o suplício da bancária Christine Brown (Alison Lohman, de "Verdade Nua"). Responsável pela autorização de empréstimos, ela recebe a visita de uma cigana desagradável, Sylvia Ganush (Lorna Raver), que pede uma extensão de crédito para sua hipoteca.

Para provar ao seu chefe que pode tomar decisões difíceis, Christine nega o pedido, apesar das súplicas da idosa, que teme ser despejada. Começam aí os problemas da moça. Sentindo-se humilhada, Sylvia a espera no estacionamento do banco para protagonizar uma das mais eletrizantes cenas de luta entre mulheres dos últimos tempos.

Apesar de mortalmente ferida, Sylvia tem tempo para sua vingança: amaldiçoar Christine a ser perseguida por um demônio, que a arrastará para o inferno.

Nos três dias que lhe restam de vida, ela deverá encontrar uma forma de se ver livre da maldição, com a ajuda do incrédulo namorado Clay Dalton (Justin Long, de "Ele Não Está Tão a Fim de Você") e do vidente Rham Jas (Dileep Rao, que estará em "Avatar", filme inédito de James Cameron).

O resultado é um competente filme de terror, que assusta ao mesmo tempo em que diverte. Evidentemente, Raimi não tem a mesma liberdade criativa, como as vistas em seus primeiros filmes do gênero, invariavelmente, de baixo orçamento. Mas, sua assinatura está lá, tal como a certeza que ele deve ter se divertido bastante com tudo isso.

(Por Rodrigo Zavala, do Cineweb)


Dan Stulbach se reinventa ao lado da mãe para levar "Tempos de Paz" para o cinema

Num primeiro momento, pode parecer estranho pensar que o embrião do filme "Tempos de Paz", em cartaz no Brasil a partir dessa sexta-feira, esteja no atentado de 11 de setembro de 2001 contra as Torres Gêmeas, em Nova York. Mas o protagonista do longa, Dan Stulbach, explica que a peça original nasceu daquela tragédia.


Tony Ramos e Dan Stulbach protagonizam o filme "Tempos de Paz", dirigido por Daniel Filho

Pouco dias depois da queda das torres, o ator se encontrou por acaso na rua com o dramaturgo Bosco Brasil e conversaram sobre o fato. "Fiquei me perguntando que imagem, depois da daqueles aviões atingindo os prédios seria capaz de nos emocionar? Andando pelas ruas de São Paulo vemos tanta tragédia todos os dias que ficamos amortecidos. Como diz meu personagem, as tragédias reais são mais fortes do que as de Shakespeare", afirma, em entrevista para o UOL.

Por três anos, Stulbach viveu o personagem Clausewitz no teatro em "Novas Diretrizes em Tempos de Paz". A sua interpretação para esse papel, criado especialmente para ele, rendeu-lhe diversos prêmios, como o Shell e o da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), ambos em 2002, e tocou fundo o diretor de cinema Daniel Filho, que quis imortalizar num filme a atuação do ator e de seu colega de cena Tony Ramos. "A transição para o cinema foi muito boa, mas foi preciso, de certa forma, reinventar o personagem depois de três anos longe dele".

O ator conta que chegou a ver algumas gravações da peça, mas parecia que não era ele em cena. "No filme fiz uma atuação bem diferente daquela do teatro. Meu trabalho corporal é outro, solto mais a voz, o olhar é diferente e, por mais estranho que seja, no filme andei muito mais do que na peça."

Com roteiro assinado pelo próprio dramaturgo, "Tempos de Paz" discute, entre outras coisas, a possibilidade de a arte poder mudar o mundo. O personagem de Stulbach é um ator polonês que tenta se instalar no Brasil, no governo de Getúlio Vargas, e é barrado na imigração. "O Clausewitz chega feliz, é quase um clown, mas aos poucos cai na real e percebe que o Brasil não é um país dos sonhos".

Stulbach considera bastante pertinente a bandeira levantada pelo filme - a do poder de transformação da arte. "Sempre pensei que se eu fosse muito bem resolvido não seria ator. Você acaba nessa profissão pensando em lidar com a sua incapacidade de comunicação." Isso vai exatamente ao encontro de seu personagem, um ator. "Para mim, o filme também é uma homenagem que faço aos atores que sempre admirei, como Paulo Autran, Marco Nanini e Antonio Fagundes."

Mais do que laços profissionais, há um outro vínculo de Stulbach com a história de Clausewitz. "Eu venho de uma família de imigrantes poloneses. Sou da primeira geração nascida no Brasil. Por algum motivo, meus pais poderiam ter estado no mesmo navio do personagem, se tivessem vindo para cá naquele ano." Os avôs do ator sobreviveram à II Guerra Mundial e chegaram ao Brasil no final dos anos 1950 - diferente do filme, que se passa em 1945. "Eu conversava com meu avô sobre o assunto, mas meus pais, estranhamente, praticamente não falavam disso".

Mas quando Daniel Filho estava em busca de uma atriz capaz de falar polonês para interpretar uma imigrante, Stulbach sabia que tinha em casa a pessoa ideal para o papel: sua mãe, Ewa Stulbach. "Ela não era atriz, mas se saiu muito bem no teste. O Daniel adorou e deu tudo certo. Foi bastante emocionante contracenar com ela". O ator conta que a ajudou a se preparar, mas muito veio da própria atriz e do trabalho do diretor. "Além de tudo, ela tinha passado pela mesma experiência que enfrenta a personagem. Foi muito bonito vê-la em cena".

O pai do ator também tem uma pequena participação em duas cenas. "Fazer o filme e o vê-lo em família foi muito bonito. Meus pais ficaram muito emocionados. Eles ficariam mesmo que não estivessem participando, claro, mas o fato de estarem na tela e fazendo aqueles personagens os tocou ainda mais fundo".

Stulbach sabe que "Tempos de Paz" tem apelo universal. "Esse é um filme que dialoga tanto com aqueles que gostam de um cinema mais popular, quanto aqueles que preferem algo mais intelectualizado, e isso me deixa muito feliz", explica o ator que, no momento, termina de rodar o novo filme de Arnaldo Jabor, "Suprema Felicidade", no qual faz o papel do pai do protagonista. "Eu acho que o menino é um pouco o Jabor, mas ele brinca e diz que estou ficando louco."

Agora com a chegada de "Tempos de Paz" aos cinemas, Stulbach confessa estar curioso para ver a reação das pessoas. "Esse filme é o lugar em que quero estar como artista. O filme é a garrafinha que joguei ao mar, como um menino que quer mostrar a sua aldeia para o mundo".

Dinheiro alimenta interesses para "Garota de Programa"

SÃO PAULO (Reuters) - O título, "Confissões de uma Garota de Programa", e a presença da badalada atriz de pornôs hardcore Sasha Grey podem levar a uma expectativa errônea em relação a esse filme ousado que, acima de tudo, aborda aquela máxima muito bem cantada no musical "Cabaret" - dinheiro é o que faz o mundo girar.

Chelsea (Sasha Grey) é uma garota de programa que consegue fazer muito dinheiro na profissão
Não há cenas de sexo, mas há algo muito mais polêmico: pessoas comprando - ou acreditando que o fazem - outras pessoas.


Dirigido por Steven Soderbergh - que em sua carreira transita entre o cinemão, como a série "Onze Homens e um Segredo" e o mundo indie, como seu díptico sobre Che Guevara, ou o muito bom e pouco visto "Bubble" - "Confissões de uma Garota de Programa" segue alguns dias na vida de uma acompanhante de luxo em Manhattan, às vezes chamada de Chelsea, outras de Christine, mas talvez nenhum desses seja seu verdadeiro nome.

Um casal janta, vai ao cinema, passa a noite junto. Aparentemente, são namorados. Seria apenas um casal qualquer, não fosse o fato de que, na manhã seguinte, antes de ir embora, a moça recebe um envelope gordo com seu pagamento.

É exatamente isso que ela oferece: os serviços de uma namorada - que são diferentes dos de uma prostituta. Chelsea será a namorada que eles queriam ter. Ela pergunta sobre a mulher e filhos, vai à galeria de arte ajudar na escolha de um quadro, ouve muito o que eles têm a dizer e a noite não precisa necessariamente acabar em sexo.

"Eles pagam para você ser o que eles querem que você seja. Se eles quisessem que você fosse você mesma, não pagariam", explica a protagonista. Pois esse comércio dos sentimentos e das emoções se mostra muito mais perigoso do que o sexo em si.

A ação do longa se passa por volta de outubro do ano passado, quando os Estados Unidos começavam a viver o desespero da crise e a euforia da esperança nas eleições presidenciais que se avizinhavam. Não poucas vezes os personagens reclamam da falta de dinheiro ou de como estão correndo o risco de perder suas aplicações.

Chelsea tem um namorado, Chris (Chris Santos), um personal trainer cujo trabalho não anda rendendo muito e, por isso, ele tenta outras alternativas - uma delas inclui um final de semana em Las Vegas com um grupo de executivos, mas não se sabe ao certo o porquê de tal viagem. Os negócios, aliás, não vão bem para ninguém. A acompanhante enfrenta o peso da concorrência e os tempos de crise.

Ela quer incrementar seu website, uma possibilidade é contar com uma avaliação de alguém especializado que lhe dê uma alta cotação. Sim, existe um "crítico de programas" - um sujeito que tem uma reputação no meio, passa a noite (gratuitamente) com a moça avaliada e, no dia seguinte, dá a sua cotação.

Dependendo do que ele diz, o preço da garota sobe estratosfericamente. Curiosamente, o personagem é interpretado pelo crítico de cinema Glenn Kenny e a cena se conclui ao som de uma versão da música "Everyone is a critic".

"Confissões de uma Garota de Programa" se desenvolve num tempo fraturado - as cenas não têm sequência cronológica, mas sempre trazem novas camadas para a compreensão de Chelsea, de Chris, mas, acima de tudo, da natureza humana. A cena final, em especial, deverá incomodar muita gente; é quando uma transação chega ao seu ápice.

Soderbergh dirige o longa a partir de um roteiro de David Levin e Brian Koppelman (a mesma dupla de "Treze Homens e um Novo Segredo") com a meticulosidade que lhe é comum.

Tecnicamente o filme é de uma beleza hipnótica. Tal qual Jean-Luc Godard, na segunda metade dos anos 1960, aqui o diretor está interessado no desenrolar de um momento mais do que na coerência e concatenação de uma trama. Nesse sentido, "Confissões de uma Garota de Programa" é a decida ao inferno de uma personagem cuja alma foi há muito tempo corrompida pelo dinheiro.

Há também um outro parentesco com Godard. Em "Viver a Vida", Anna Karina é uma mulher que se perde na prostituição, embora mantenha algumas ideias um pouco românticas sobre o assunto. Chelsea/Sasha Grey é uma empresária que não apenas é a dona da empresa, como também sua funcionária mais aplicada, e por isso mais interessada na lucratividade.

A atriz, cuja filmografia inclui filmes como "Meu Primeiro Pornô 7" e "Invasores de Faces 4", além de outros títulos impublicáveis, pode não ser o que há de melhor em termos de atuação. Mas Soderbegh não a escalou por acaso.

Certamente, o interesse do diretor está menos focado na facilidade que Sasha tem para remover suas roupas e se permitir qualquer ato sexual e mais no conhecimento que ela tem sobre a negociação para se vender o corpo - afinal, ela não fez nenhum filme gratuitamente. Apesar das limitações dramáticas, a moça é capaz de, numa cena chave, mostrar a autenticidade de sentimentos que tornam a personagem extremamente crível.

Duas décadas depois de sua estreia, Soderbergh continua a colocar sexo e mentiras não mais num videoteipe, mas agora no suporte digital. O que mais assusta, no entanto, é como nesses vinte anos as fantasias mais variadas se tornaram muito mais acessíveis - desde que o interessado tenha verba para as realizar.

(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

"Se nada mais der certo" confirma o talento de Belmonte na direção

"Só os idiotas estão seguros neste mundo". Esta é a triste conclusão de Leo, um dos personagens centrais de "Se Nada Mais Der Certo", que estreia no país nessa sexta-feira. O problema para Léo (interpretado por Cauã Reymond) é não ser um idiota e, por isso, ele não se sente seguro no mundo - ao contrário, vive num limite pueril.


Amigos se envolvem em crimes em "Se Nada Mais Der Certo"

Léo é um jornalista que ganha a vida com freelances, mal ou quase nunca pagos. Para piorar a situação, cuida de Ângela (Luiza Mariani, de "O Passageiro - Segredos de Adulto"), uma drogada em processo de recuperação, fazendo tratamento bem caro e com um filho pequeno para criar. Apesar de morar há algum tempo em São Paulo, Léo se sente estrangeiro em meio à selva de pedra.

Mas como em outros filmes do diretor José Eduardo Belmonte, como "A Concepção" e "Meu Mundo em Perigo", inédito em circuito, as pessoas são capazes de criar vínculos mais fortes do que os familiares. Entram em cena o misterioso Marcin (vivido pela premiada atriz de curtas Caroline Abras) e o taxista Wilson (João Miguel, de "Estomago").

Sobre Marcin, cujo nome não por acaso rima com a emblemática personagem da literatura brasileira Diadorin, de Guimarães Rosa, sabemos muito pouco. Vivendo de bicos no submundo, o rapaz (ou seria uma garota?) é bem relacionado e trafica drogas para se sustentar. Nesse universo, o filme cruza com figuras típicas da noite, como a travesti Sybelle (Milhem Cortaz, de "A Encarnação do Demônio"), que pode tanto ajudar quanto atrapalhar os personagens principais.

Curiosamente, "Se Nada Mais Der Certo" chega aos cinemas de todo País numa época politicamente tumultuada e reflete exatamente uma descrença no poder público e nos governantes. O roteiro, também assinado por Belmonte, captura com sagacidade o zeitgeist - o espírito do tempo, o momento em que vivemos - e como isso se reflete nas escolhas e opções da juventude, que parece estar de mãos atadas até tomar o poder. Essa inquietude constante dos personagens é o reflexo da instabilidade do mundo.

Dividido em partes, com títulos bem criativos, como "Pequenos Infernos" ou "Não se Meta com Meus Inimigos", o longa faz um retrato honesto da juventude em tempos de crise, quando restam poucas esperanças. Belmonte filma com vigor, fazendo uso de uma câmera que segue seus personagens com leveza e sagacidade. O uso da trilha sonora, tal qual em "A Concepção", ilustra, acima de tudo, o estado de espírito dos personagens. Aqui, é a vez de Jimi Hendrix explodir na tela e nas caixas acústicas com "Little Wing", num respiro de alegria dos personagens tão surrados pela vida.

O filme ganhou prêmios em diversos festivais - como melhor filme, no Rio, em 2008, e no Cine Ceará, em 2009. Em "Se Nada Mais Der Certo" tudo está muito bem articulado, desde o roteiro até a edição, passando pelo som e direção de arte, mas há dois aspectos que saltam à vista: Caroline Abras e a direção precisa de Belmonte. A interpretação da atriz é tão pungente que é difícil não se afeiçoar a Marcin, apesar de seus deslizes. A atriz consegue transmitir com tanta veracidade a fragilidade do personagem que, ao final do filme, temos vontade de o abraçar e dizer que pode contar com a gente se tudo der errado.


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