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19 de jul. de 2008

Arquvo Dercy Gonçalves.



Neste sábado, 23 de junho, a humorista Dercy Gonçalves completa oficialmente 100 anos de idade. Oficialmente, pois, segundo a atriz, ela já chegou aos 102 --o pai a teria registrado todos os filhos de uma vez, dois anos após seu nascimento. No último dia 7, a comediante ganhou uma festa em sua homenagem e festejou seu centenário.

Conhecida por seu humor debochado e pelos palavrões, tornou-se sinônimo de improviso e irreverência. Nascida Dolores Costa Gonçalves, em Santa Maria Madalena, no Rio de Janeiro, adotou em 1927 o nome artístico de Dercy Gonçalves para tentar a carreira de cantora. Três anos antes, havia fugido de casa, onde morava com o pai e com seis irmãos, abandonados pela mãe que não se conformava com uma traição do marido.

Como cantora, no entanto, não ganhava dinheiro. "Era uma mão-de-obra trabalhar nos circos, nos cabarés, nos puteiros. Eu só "fazia mesa", nunca bebi", contou em entrevista à Folha de São Paulo. Com um talento intuitivo para o humor, decidiu virar atriz numa época em que a profissão era confundida com prostituição. E acabou passando grande parte da vida nos palcos do teatro.

Estréia em 1929, na cidade de Leopoldina na Companhia Maria Castro, fazendo dueto com Eugênio Pascoal. No ano seguinte, viaja pelo interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, apresentando-se em dupla com Eugênio Pascoal, como Os Pascoalinos. No Rio de Janeiro, faz carreira no teatro de revista na década de 30 e nos anos 40. No ano de 1943, estréia no cinema com o filme "Samba em Berlim". A partir daí não pára mais de trabalhar e faz mais de 30 filmes.

Em suas peças, Dercy não representa um personagem. O personagem se amolda a ela e os demais atores servem de escada para seus improvisos. O estilo é alvo de críticas, mas a atriz não muda sua postura: "Não sou uma grande atriz. Tenho o meu estilo, que ninguém faz. E quem faz, faz com exagero", disse à Folha de São Paulo às vésperas de completar 100 anos.

Fez do palavrão uma de suas armas, estratégia que decidiu usar para ganhar dinheiro nos tempos de cantora, quando percebeu que assim poderia fazer rir: "Um dia, fui assistir a uns portugueses que vieram de Coimbra para fazer um espetáculo no Teatro Municipal. Quando um deles falou no palco 'eu estou todo cagado' (com sotaque), o povo caiu na gargalhada. Aí também comecei a falar palavrão: puta que pariu, caralho, e todos riam. Então, é por aqui que vou ganhar. Ganhei dinheiro com palavrão pra caramba.", contou na mesma entrevista.

Na década de 50, quando o teatro de revista não atrai mais tanto o público, passa a se dedicar à comédia. E no ano de 1957 estréia na televisão, na TV Excelsior e tornou-se uma das artistas mais bem pagas do canal. Nesta época, a TV começa a se apropriar dos quadros humorísticos típicos da revista, levando-os à casa dos potenciais espectadores, o que terminou esvaziando o interesse pelo gênero no palco.

Na Globo, no final da década de 60, Dercy trabalhou em programas humorísticos escritos especialmente para ela como "Dercy Comédias", "Dercy Espetacular" e "Dercy de Verdade", até ser tirada do ar pela censura. Ela havia estreado no canal o programa "Consultório Sentimental", um dos embriões dos atuais talk shows, em que os convidados eram alvo de seu deboche. O programa foi sucesso absoluto e chegou a ter 90% dos aparelhos de TV sintonizados no horário de sua apresentação.

A partir do final dos anos 60, Dercy abandona a dramaturgia, para recorrer a um formato mais próximo ao show, em que ela tem papel solo. Inicialmente, alguns autores são chamados a escrever sob encomenda. Depois, a própria atriz assina roteiro e direção. O nome dos espetáculos muda, mas seu conteúdo e sua forma são sempre idênticos: solos de Dercy Gonçalves com sua comicidade bufa em diálogo direto com o espectador, sem personagem, feito de uma seqüência de piadas e tiradas cômicas. O palavrão tem uso recorrente, o que faz o crítico Sábato Magaldi observar que, nos espetáculos da atriz, o palavrão aplaudido tem função de ária de ópera. *

Dercy volta à TV nos anos 80. Na Band, atuou na novela "Cavalo Amarelo". Na TV Record, fez "Dercy aos Domingos". Na mesma década, participou de programas de auditório do SBT como jurada. Em 1989, participou da novela "Que Rei Sou Eu?", da Rede Globo, no papel de mãe da Rainha de Avilã, interpretada por Tereza Raquel. Em 1991, marcou o desfile de samba do grupo especial do Carnaval do Rio de Janeiro ao desfilar em carro alegórico com os seios à mostra.

Em 1992, foi homenageada na novela da Globo "Deus nos Acuda", de Sílvio de Abreu. A novela era uma alegoria sobre a corrupção no Brasil e a humorista interpretou a anja Celestina, que cuidava do país. Já idosa, mas sem perder o senso de humor, Dercy teve o auxílio de atores que liam para ela falas em um ponto eletrônico. No entanto, acostumada a atuar ao vivo, o papel foi um prato cheio para seus improvisos.

Dercy também passou cinco anos como a estrela de um quadro fixo no "Domingão do Faustão", o "Jogo da Velha". Ele viria a se tornar um de seus mais queridos amigos. Depois disso, suas aparições na TV tornaram-se mais raras e fez participações especiais em programas como "Sai de Baixo" e "A Praça é Nossa". Dercy se recusou a trabalhar no programa "Zorra Total", da Globo, e hoje é contratada vitalícia do SBT. A comediante, no entanto, se diz magoada com o patrão Sílvio Santos, que não lhe chama mais para participar de programas.

* Informações da Enciclopédia do Itaú Cultural

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